
Se você for uma atleta, leia o texto até o final.
Certa vez, em 2002, eu estava correndo em volta do Maracanã e vi um homem correndo com um amigo meu. Olhei para ele e achei que ele tinha cara de idiota. Passados alguns dias, ele veio correndo junto comigo. Ao terminar, ele começou a insistir para que eu fizesse uns tiros com ele. Mesmo eu dizendo que no domingo o meu treinador não me mandava fazer tiros, ele insistira muito. Outra vez, ao puxar papo comigo, comentei que a minha nutricionista colocara uma carinha triste no guaraná natural em sua tabela de alimentos. Ele respondeu que guaraná natural podia até matar. Achei a resposta dele tão ridícula que preferi nem comentar.
Até que um dia desses ele veio me perguntando se eu estava precisando de um patrocínio. Respondi que um patrocínio seria benvindo, embora não o tivesse levado a sério. Ele respondeu que tinha contatos e que poderia me ajudar. O detalhe é que eu estava começando a correr na época e conseguir patrocínio é difícil mesmo para as feras. Acreditava que a minha aparência física o havia influenciado a oferecer a ajuda.
Sofri uma lesão e só voltei a vê-lo em 2003. Disse que eu sumi. Respondi que tive uma lesão e perguntei-lhe pelo patrocínio. Não me lembro da resposta dele. Posteriormente, após alguns bons resultados, resolvi fazer-lhe uma surpresa, enviando-lhe fotos minhas no pódio. Ele gostou e disse que ia me patrocinar.
Mais algumas lesões e ele começou a dizer que a culpa podia ser do treinador e que eu devia ter uma equipe que cuidasse de mim. Mais ainda, que poderia arrumar um treinador gabaritado para mim. Disse-lhe que o meu era tudo isso. Fiz de tudo para convencer-lhe de que meu treinador e o seu assistente eram extremamente competentes. Ele começou a insinuar também que eles só pensavam em lucrar com os atletas, não se importando com o que se passava de fato com eles. Na época, confesso que fiquei em dúvida com relação ao meu treinador, pois ainda não o conhecia muito.
Chegando perto do final do ano, disse-me que me patrocinaria para a São Silvestre. E revelou o nome da empresa que o faria, da qual ele fazia parte. E me disse que a empresa patrocinava dois meio-fundistas que treinavam em Nova Friburgo, um rapaz e uma moça. Disse-me que eles correriam a São Silvestre e que tinham chances concretas de irem às olimpíadas de Atenas. Ao perguntar os nomes, ele dizia que não adiantava falar, pois não os conhecia. Insisti, mas ele não quis dizer. Só que eu, por ser atleta, conheço a maioria dos grandes nomes do atletismo do Brasil. Se tais atletas existissem, eu certamente já teria ouvido falar deles. Ele chegou a mandar um e-mail formalizando o patrocínio em nome da tal empresa, que é de propaganda na Web. Porém, machuquei-me de novo e não pude correr a São Silvestre.
Consegui o endereço do site da tal empresa. Muito bonito e bem feito. Mais ainda, o nome dele constava da equipe da empresa. Perto do final do ano, recebi um e-mail de uma suposta gerente da empresa, que me desejava melhoras e falava dos atletas que ela patrocinava, sem dar os nomes. O e-mail era informal demais para ser vindo de alguém que não me conhecia. Mas na época não suspeitei de nada. Anos depois, conversando com o meu treinador, soube que no Rio de Janeiro inteiro não havia nenhum meio-fundista de nível olímpico.
Em 2004 eu também tive muitos problemas para voltar a forma e tive que ficar um tempo parada no meio do ano para fazer um bom reforço muscular. Ele continuava a dizer que o meu treinamento devia estar errado e que eu deveria procurar um outro treinador. Ele sugeriu isso até mesmo com relação às torções de pé que eu tive em 2003.
Em 2005 ele resolveu me acompanhar mais de perto nas corridas, indo me ver. Apresentei-lhe ao assistente do meu treinador, que claramente não gostou do jeito dele, que foi logo perguntando se estavam precisando de patrocínio. Como sei que muita gente já havia oferecido ajuda ao assistente do meu treinador e depois não retornado o contato, achei que o problema fosse esse. Ele também falou de um meio-fundista que fora patrocinado pela empresa onde trabalhava e que havia ido para a Bolívia.
Ele dizia gostar muito das provas de meio-fundo, especialmente das de 800 m. Ele também dizia que o irmão dele competira em tal prova. Já ele sempre deu a entender que nunca foi atleta, embora corra relativamente bem e, o mais impressionante, com boa técnica, algo raro em não-atletas ou não-ex-atletas.
Ele também disse que havia sido promovido e que agora tinha maior poder, podendo assim conseguir de fato ajuda para a minha carreira de atleta. Desde 2003 ele ligava muito para a minha casa e falava muito. Até com a minha mãe ele ficava batendo um longo papo, como se ela fosse uma grande amiga dele. E vivia me chamando para sair e tomar um suco com ele. Eu sempre negava, dando como desculpa que estava sempre muito ocupada, o que não deixava de ser verdade.
A partir do meio do ano, começou a querer me levar nas corridas. E sempre me mandava falar no rádio com um sócio dele, que me desejava boa-sorte e me parabenizava. A primeira foi exatamente no dia dos namorados, em Paquetá. Eu estava apreensiva, pois ele poderia querer aproveitar a oportunidade para passar um tempo comigo lá, algo que eu não queria de jeito algum. Sem falar que na véspera ele me dera um presente, dizendo que era pelo meu aniversário, que é no dia 26. Ele disse que não se lembrava da data ao certo, mas que sabia que era por aquela época. Mas eu cansei de lhe dizer que era no dia da maratona, no dia 26.
E, a partir daí, me arrumou shorts e 2 tops com o logo da empresa. Mas nunca pagou as minhas inscrições. Ao menos me dava força e me levava e trazia de volta. Mas não gostava da companhia dele. Ele começou a dizer que queria que eu corresse em SP para ter mais visibilidade e que pagaria tudo para mim. Sugeria que eu seria vista. Mas certamente não conseguiria nenhum contrato de alguma equipe em São Paulo, já que lá tem mais mulheres melhores do que eu nas corridas de rua. Mais ainda, dizia que me daria uma ajuda de custo, um tênis, um agasalho e uma bolsa para material esportivo. Ele chegou a dizer quando isso aconteceria, a partir de agosto de 2005.
E insistia demais para que eu fosse correr em SP. E dizia que se eu não quisesse, colocaria um garoto novo em meu lugar, da Baixada, que ele insistiu comigo que fazia os 10.000 m na pista em uns 27 min. Eu sabia que era impossível alguém desconhecido ser tão bom, bem melhor do que o campeão brasileiro, mas não sabia que isso era tempo de campeão mundial. Ele alegava que o garoto era desconhecido. Porém, se um desconhecido corresse tão bem, viraria celebridade da noite para o dia aqui no Brasil. Depois ele negou, dizendo que estava brincando e que ele na verdade fazia em 37 min.
Chegou inclusive a definir para qual corrida eu iria. Primeiramente, foi a do Circuito Fila na Praia Grande, que, de acordo com ele, toda a elite estaria presente. Só, como ele mesmo disse, a campeã fazia em uns 39 min. Eu conseguiria ficar entre as 5 primeiras! Que elite é essa? E dizia que isso era certo, assim como as demais promessas. Depois, falou que levaria o tal garoto para a Praia Grande e que eu iria para a Corrida da Independência. Ele novamente afirmou que era certa a minha ida. Sendo que o nome do tal garoto não constava da relação dos que terminaram a corrida.
Ele começou também a se insinuar, dizendo que eu era uma gracinha. E começou a falar de mim para a minha mãe como se eu fosse a oitava maravilha do mundo. Quem também já fizera isso foi um ex-namorado meu que era safado. E pedia para ela para me deixar ir com ele para São Paulo. E quando conheceu meu pai, também bateu o maior papo com ele, como se fossem velhos conhecidos de corrida. Ele começou também a querer me abraçar e na última corrida em que ele esteve comigo, ao se despedir de mim, ao invés de dar a bochecha para que eu o beijasse, se virou de frente. Eu fui na bochecha. Nunca que eu beijaria esse sujeito na boca. Só de imaginar, sinto o maior asco.
Uma coisa que me chamou a atenção foi que ele dizia que havia sido da marinha. E, na corrida dos fuzileiros navais, deu um jeito de conseguir carona com o pessoal da marinha. E, antes da corrida, estava confiante de que conseguiria fazê-lo. Ele também tinha um estranho hábito de ficar puxando papo com todo mundo que passava. E não falava pouco.
Ele também dizia que a empresa dele tinha uma parceria com uma empresa de material esportivo, da qual ele sempre falava. Ele parecia saber tudo da tal empresa. E vivia dizendo que observava atletas junto com um cara dessa empresa. A ponto de numa corrida se virar para um garoto e dizer que ele estava sendo observado. Perguntei por quem e ele respondeu que foi por um amigo da tal empresa.
Até que em um dia, ele começou a dizer que eu não confiava nele e que todos da empresa confiavam nele. E que sem a confiança, não poderia me ajudar. De fato, eu não confiava mesmo. Porém, no passado ele jamais dissera isso. Sempre falou que eu poderia confiar nele, que só queria o meu bem e nada em troca. Chegou a dizer que eu era muito desconfiada e que talvez eu fosse assim por causa da minha religião (espiritismo kardecista). Pela minha experiência, somente os homens mal-intencionados dizem essas coisas.
Também começou a dizer que o patrocínio só sairia mesmo se eu corresse os 10 Km abaixo de 37 min. Eu respondi que, quando isso acontecesse, teria um patrocínio bom e que não precisaria da empresa dele.
Ao lhe afirmar que confiava nele, começou a falar mal do assistente do meu treinador. Disse que em uma corrida não pagou água para um atleta que estava com sede. Mas ele sempre traz garrafas geladas, para que comprar? E disse que ele estava com a carteira cheia de dinheiro, com notas de R$ 20,00 e R$ 50,00, o que é ridículo, porque ele não tem uma boa situação financeira nem seria louco de andar com tanto dinheiro na carteira. E com notas altas é impossível comprar água no Aterro do Flamengo. Sem falar que xeretar as carteiras alheias é uma tremenda falta de educação.
Ele também implicou com o fato de o assistente do meu treinador dizer para eu não dobrar o número da corrida, o que sempre faço por ser calorenta. Ele ficou dizendo que era por inveja do meu patrocínio. Por fim, como o assistente do meu treinador nesse dia não nos olhara quando nós o chamamos, ficou dizendo que ele não queria falar comigo. Não queria falar com ele ou então não havia nos visto. Ele chegou a falar mal dele para uma amiga minha, atleta dele, dizendo que ele era arrogante.
Começou a dizer que o assistente do meu treinador era mal-caráter e que deveríamos nos afastar daquela gente. Eu comecei a defendê-lo de todas as formas. Até que ele me perguntou se eu confiava nele. Eu obviamente respondi afirmativamente. Sempre confiei e sempre confiarei nele. Pensei que eles haviam discutido ou algum estranhamento entre eles havia ocorrido. Descobri mais tarde que o assistente do meu treinador não gostava dele e que de fato o achava mal-intenciondado. E, por causa disso, evitava a sua compainha.
Até que um dia eu encontrei o tal amigo meu a quem me referi no início do texto e perguntei se ele era confiável. Ele não quis falar, só disse que ele aprontara algo horrível com uma ex-namorada, uma covardia da qual ele se gabava para meio Maracanã, a ponto de ser procurado pela família dela. Disse também que ele já usara esse papo de patrocínio com outras e também assediava garotas prometendo coisas piores. E que ele era doente, não-confiável e que seria capaz de botar algo na minha água. Mais ainda, meu amigo afirmou que o sujeito estava interessado em mim.
Ele insistia na questão de que o assistente do meu treinador não prestava, a ponto de falar para que a minha mãe ficasse de olho nele, por não ser uma pessoa confiável. E, por causa do "ocorrido" com o assistente do meu treinador, a empresa não dava como certa a minha ida para a corrida em SP. Ao alegar que tudo deveria ser um mal-entendido, ele dizia que a empresa dele confiava nele. E disse que eles não patrocinavam atletas ligados à FARJ (Federação de Atletismo do Rio de Janeiro), sendo eu uma exceção.
Aproveitei para cobrar as taxas de inscrição nas corridas que corri com os tops que ele me dera. Afinal, se eu fiz propaganda deles, era justo que eu ao menos não precisasse pagar por isso. Aí ele saiu dizendo que não era para eu usar os tops nas corridas do Rio. Mas não foi o que ele dissera antes. Ele havia dito explicitamente que queria que eu usasse os tops em determinadas corridas, e que eu saísse nas fotos no pódio usando-os.
Ele não me procurou mais. Até que um dia recebi um e-mail de um gerente da empresa dele, dizendo que não me levariam para a corrida em SP porque eu não estava psicologicamente preparada para isso e que eles patrocinavam atletas de elite, com resultados expressivos, coisa que ainda não tenho. Só que a maneira de escrever de ambos era a mesma, inclusive com os mesmos erros de português grosseiros, tal como "voçê". Ou seja, o e-mail era falso. Mais ainda, se eles patrocinam atletas de elite, eles patrocinam atletas federados, porque os atletas de elite em geral são todos federados.
Comecei a investigar e descobri que ele não era funcionário e sim um dos sócios da tal empresa de publicidade na Web, que tinha como presidente o seu irmão mais velho. Ou seja, se ele quisesse de fato me patrocinar, o faria. E que o site da empresa não era atualizado desde 2002. Até o contato com a empresa não existia mais (ou talvez nunca tenha existido). Que empresa de propaganda é essa que não atualiza o próprio site? E dos três casos de sucesso, de propagandas de outras empresas, apenas uma delas eu descobri na vida real. E o nome da tal empresa é bem parecido com o nome da empresa de propaganda. Descobri também que o site está registrado no nome dele.
Um dia, encontrei-lhe no Maracanã e ele veio me perguntar se estava tudo bem comigo. Fiz o maior escândalo, chingando-o bem alto e mandando-o embora. Ele simplesmente se retirou sem se defender ou ao menos ligar para a minha mãe para fazê-lo, o que seria bem razoável. Poderia ter simplesmente alegado que a culpa pelo patrocínio não ter saído não era dele.
Por acreditar que o tal gerente de quem o e-mail supostamente viera existia mesmo, resolvi responder ao e-mail, perguntando se ele mesmo o enviara. Se o e-mail dele tivesse sido usado indevidamente, aconteceria a maior confusão na empresa.
Para a minha surpresa, alguns meses depois recebi a confirmação de que ele fora lido. Mais ainda, ás vésperas da São Silvestre, recebo um e-mail do mesmo destinatário e com o mesmo português tosco dizendo que eu não mandara mais notícias e que eu não estava mais demonstrando interesse, ao não lhes mandar os resultados das corridas. E que o meu psicológico era um problema sim e que eu deveria me tratar, e que com o que soube por seu amigo poderia traçar o meu perfil.
Dizia que patrocinaria atletas para a São Silvestre e que eu poderia estar no grupo. Por fim, chegou a dizer que eu já era uma atleta de elite.
Mais umas pesquisas e descobri que ninguém patrocinado por tal empresa correra a Sâo Silvestre ou outra corrida grande. Afinal, o patrocinador sempre aparece no nome da equipe, e ninguém com tal equipe correra corridas grandes, com a minha exceção, por ter colocado o nome da empresa na equipe ao fazer a inscrição, por causa das promessas. Também não descobri ninguém patrocinado pela tal empresa de material esportivo, que existe de verdade. Mas ao contrário do que me foi dito, a empresa não é parceira da empresa de publicidade na Internet e, sim, o irmão do cidadão, presidente da última, trabalha na primeira. Esse presidente corre algumas corridas sempre com a camisa da empresa de material esportivo, como descobri nos resultados das corridas.
Também fiquei sabendo que ele, ao contrário do que havia me dito, ainda era da marinha e por isso viajava tanto. Ele dizia que era para fechar contratos para a empresa dele. Sendo que no site consta que ele é ligado a tecnologia, e não a atendimento.
Por fim, tenho uma amiga que corre, mas devagar, porque ainda treina há pouco tempo. Nâo é que ele veio com o mesmo papo para cima dela, como se já a conhecesse faz tempo e perguntando como ela treinava e que ela estava muito bem para quem estava começando, o que não é verdade. Ele não chegou a lhe oferecer patrocínio porque eu lhe alertei antes. Pelo que vi, ele gosta de loiras e prefere pegar quem ainda não corre muito, pois quem já corre bem ou tem um treinador sabe que
patrocínios não caem do céu. Sem falar que o treinador pode alertar do perigo, pois em geral quem patrocina atletas são pessoas conhecidas do meio.
Portanto, se você for uma atleta, cuidado com quem te oferecer patrocínio.
Comentários
Beijos.