Estórias do Colégio 9 - Professor Tarado


No segundo ano, entrou um novo professor de português e literatura. Ele no início se mostrou excelente; simplesmente nos encantou com a sua primeira aula. Tanto que no primeiro bimestre foi ele quem ganhou o prêmio que os alunos davam aos professores (vou colocar no passado porque não sei se esse prêmio ainda é concedido).

Porém, uma vez eu tive uma dúvida na lista de exercícios de literatura e fui falar com ele. Só que ele me deu a resposta errada de acordo com o gabarito. Não sei dizer se ela estava errada mesmo, pois literatura é algo muito subjetivo. Todavia, ao mostrar o que aconteceu para ele, ele pediu a minha lista para olhar melhor em casa e sumiu com ela. Ao pedi-la de volta, sempre inventava uma desculpa. Deve ter sido para se desfazer da prova de que possivelmente errara.

Para piorar, ele começou a se mostrar um tarado de carteirinha. A foto acima não é a toa. Ele seria muito bem capaz de fazer isso. Eu comecei a notar que ele ficava olhando para o meu corpo o tempo inteiro e com a maior cara de tarado, mesmo eu me vestindo com verdadeiros sacos de batata para me esconder. Chegou ainda a perguntar se eu não queria que ele fizesse uma poesia para mim. Vê se pode!? E não era só comigo. Ele olhava para todas, alunas e professoras, novas e velhas, altas e baixas, gordas e magras. Era só ser mulher. Tanto que na minha turma a preferida dele era uma bem magrinha e, na do primeiro ano, uma gordinha.

Comecei a ter ódio mortal dele. Não admitia tal comportamento. Eu não queria que me olhassem, quanto mais um velho tarado. Como passei a participar quase nada das aulas dele, ele chegou a me cobrar isso. Ele percebeu claramente que eu não o suportava.

Ele se gabava de sua tara. Uma vez contou que pegara um ônibus muito cheio e, que ficando encostado no banco, com o vai e vem nas curvas, ocorreu uma "metamorfose". Na outra estória que ele contou, ele disse que dera carona para uma bela loira e, que por causa disso, ficara tão nervoso a ponto de nem conseguir dirigir direito. Ele ainda contou que falara o que acontecera para a esposa. "Homens normais" nunca passariam por isso.

Ele puxava muito o saco da magrinha e de seu grupinho, entre elas, a queridinha do diretor geral. Uma vez, houve um teste em dupla e as duas trocaram cola com dois garotos. As provas ficaram idênticas. Não é que elas tiraram uma nota bem mais alta do que a deles. Como pode?

Falando nisso, já me aconteceu de eu perder pontos em prova com a questão certa, só para ficar com nota mais baixa do que a delas. Claro que conseguia reavê-los, mas tinha que ir lá reclamar. Sendo que na hora em que as notas eram anunciadas, a minha acabava mais baixa do que a delas. Uma vez, na hora do anúncio das notas de física, eu disse: "Impossível!". A diretora mandou que eu me calasse. Ela não gostava de mim...

O namorado da magrinha, um amigo meu, ao ver que sua namorada era descaradamente paquerada, dizia que o odiava e queria que ele morresse queimado. Eu concordava com ele. Para um cara legal e pacífico dizer algo assim, é porque realmente ele detestava o professor. Hoje em dia jamais desejaria algo assim para alguém. Afinal não se deve pagar um mal com outro mal nem em pensamento.

Eu dizia para os meus colegas que ele não prestava. Aliás, isso não era nenhuma novidade, pois eu dizia isso de vários professores, apenas por serem galinhas. Não deixava de ter razão. Todavia, não tinha nada que ficar dizendo isso. Contudo, nesse caso a coisa era mais séria.

Como a qualidade das aulas começou a cair, porque a turma era bagunceira e ele começou a não se mostrar tão bom professor assim, a relação entre o professor e a turma começou a azedar. Ele viajava muito nas aulas, não sendo objetivo. Uma vez cometeu um erro de acordo com o gabarito de uma lista e do livro texto. Fui falar com o coordenador da matéria. Entretanto, como ele não me suportava por causa dos boatos inventados ao meu respeito, ele defendeu o professor que ele contratara com unhas e dentes, dizendo que o que ele dissera, dependendo do ponto de vista, era aceitável. Literatura é mesmo um problema, 1 + 1 não necessariamente é igual a 2.

A relação dele com a turma conseguiu ficar ainda pior depois de uma prova de literatura. Quem fazia as provas eram sempre os coordenadores das disciplinas. Nas vésperas, o professor disse que a vira e que ela estava tranqüila, sem nada que ele não havia dado. Todavia, ele mentiu. A prova estava dificílima e com questões que não faziam sentido para uma prova de literatura. As notas, dadas por uma monitora mão-de-ferro, foram baixas.

Ao tomarmos satisfação com ele, falamos: "Você disse que tinha visto a prova!". Ele ficou sem graça, dizendo que tinha olhado apenas superficialmente. Então, como ele poderia ter dito que a prova estava tranqüila? Depois disso, a turma me deu razão quanto ao fato de eu dizer que ele não prestava.

No início do terceiro ano, ainda era ele quem dava literatura. Como a turma passou a detestar as suas aulas, ele acabou sendo despedido.

Por fim, soube que ele também era pastor da Igreja Universal. E que ele dizia que expulsava demônios e que já enfrentara alguns. Mais ainda, que um possuído tinha chifres. Bom, se ele era pastor de uma Igreja mercenária, ele sabia seduzir platéias, ainda que inocentes, ou seja, tinha lábia.

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