Estórias do Ballet 4 - Dennis Gray

Tive um coreógrafo e professor de ballet chamado Dennis Gray. Já o conheci com 70 e muitos. Ele faleceu recentemente. Ele era extremamente talentoso e rígido. Era um professor da antiga. A minha coreografia do primeiro ano foi feita por ele. Ele brigava por qualquer coisa, não poupando nem crianças. Ele gostava muito de "alunas espertas", que aprendiam rápido. Quando alguem errava no ensaio, logo ele ameaçava dizendo que não ia mais ensaiá-la. Ou então botava as mãos em cima da cabeça e as balançava, simulando orelhas de burro. E detestava quando alguém bocejava. Ele dizia que acordava às 5 h e não estava cansado, portanto, ninguém podia estar também. Ele considerava isso falta de respeito. Discordo, a pessoa pode estar esgotada por algum motivo, não se pode julgar alguém assim.

Ele era um artista nato. No ensaio dessa minha coreografia, ao voltar a fita, se a fita voltasse muito, ele ficava dançando o final da dança anterior. Apesar da idade, demonstrava muita desenvoltura. Era figurinista talentoso também. Porém, usava uma peruca horrorosa, que parecia um pano de chão. Isso era engraçado.

No meu último ano tive aulas com ele. Qaundo soube que ele seria o meu professor, morri de medo. Minhas colegas, também. No primeiro dia todas as minhas colegas estavam com medo. Lembro-me de que ele logo notou o problema no meu pé, hiper-pronador. A disciplina era de 100 %. Se até as professoras mais liberais eram terríveis com quem deixasse o corpo relaxado ou batesse papo, imagina ele. Ninguém nem ousaria a fazer isso. Por isso que hoje em dia as meninas fogem do ballet clássico. Ninguém mais quer essa rigidez toda. Confesso que acho um exagero, pois os tempos são outros. Dá para se ter disciplina sem rigidez.

Voltando ao assunto, ele fizera duas colegas minhas chorarem. A professora da estória anterior sempre dizia que era entrar por um ouvido e sair pelo outro porque ele era assim mesmo e que nem a Ana Botafogo escapara dele. Contou ela que ele subira no piano e dera uma enorme bronca na nossa grande bailarina. Quanto as minhas colegas, no primeiro caso, ele começou a dizer que a garota faltou com respeito com ele. Não me lembro ao certo do que aconteceu. O segundo caso eu lembro. Uma amiga minha errou algo e as minhas colegas que estavam por trás a chamaram, para alertá-la do erro. Ao mesmo tempo ele foi corrigi-la. Como ela olhou para trás, ele começou a dizer que ela era mal-educada e que nunca mais a corrigiria. Ela chorou tanto! Isso porque ele gostava muito dela. Porém, foi da boca para fora. Ele era assim, um tanto explosivo. Comigo ele já brigou também, mas nada fora do normal.

Mas ele também sabia elogiar. Soube que nos bastidores ele reconhecia meu esforço e que eu melhorara. Uma vez ele também disse à minha turma que havia alunas melhores do que as da escola de dança. Nos bastidores ele elogiava muito a garota com quem ele brigou feio. Dennis Gray, descanse em paz!

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