Tive um namorado há muitos anos atrás que era ateu. O único deus no qual ele acreditava era nele mesmo. Se super-valorizava e se julgava capaz de saber o que era melhor para os outros. Era extremamente egoísta e sempre fazia o que melhor lhe satisfizesse, não se importando se estava ou não ferindo outras pessoas. Se ferisse alguém, inventava mil motivos para justificar as suas atitudes, muitas vezes cruéis. Gostava de inverter as situações, fazendo chantagens emocionais, passando de algoz à vítima.
Era extremamente pessimista, sempre vendo o lado ruim das coisas, e vivia se incomodando com pequenas particularidades de outras pessoas, ainda que não fossem defeitos propriamente ditos. Todos nós sempre temos características que incomodam outras pessoas, devemos apenas relevar isso para podermos viver em paz, a não ser que algo seja sério. Contudo, ele não tolerava tais coisas, com isso diminuindo as pessoas com quem ele convivia, se esquecendo que também incomodava outras pessoas. Se perguntado sobre isso, ele dizia que o incômodo que as outras pessoas lhe causavam era insuportável, já o dele, não. Chegou a me dizer que eu tinha defeitos insuportáveis. Tentei mudar na marra alguns de "meus defeitos" para ver se eu agradava. Só ouvia desaforos, dando a entender que tudo meu estava errado.
Era muito difícil para ele pedir desculpas, mas ele pedia apenas quando tinha interesses. Quando já não namorávamos, só vinha falar comigo se tinha algum interesse. Senão, só me tratava com patadas. Ainda muito apaixonada, aceitava tal condição para ver se ele voltava para mim.
Se tinha um problema, se fechava e não falava com ninguém. Tratava seus problemas como se fossemos mais importantes e os piores. Obviamente, já sofreu crises de depressão. Sumia e não dava notícias, deixando as pessoas que gostavam dele preocupadas.
Se algo não era considerado errado pelos homens e não estava escrito que era proibido em nenhuma lei, ele não via problemas em fazer tal coisa, ainda que ferisse as pessoas. Se questionado, dizia que não havia feito nada de errado.
Ele afirmava que Deus não existia. Será que ele tem alguma razão para viver, já que na opinião dele tudo vai acabar com a sua morte? Já o questionei sobre isso, alegando que não seria razoável que uma inteligência como a dele desaparecesse. Mas ele diz que acredita que seja assim. Será que ele prefere que seja assim?
O engraçado é que apesar das características que citei acima, ele tem senso de moral e procura dar valor aos seus dias, não os gastando inutilmente, detestando qualquer coisa que ele considere fútil. Acho que faz isso para ter seu nome lembrado, satisfazendo assim seu ego. Se ele for fútil, vai ser parecido com muitas pessoas. Ele faz questão de ser diferente e gosta de complicar o que é simples.
É verdade que as pessoas não toleram o que é diferente. Sinto isso na pele. Mas procuro conviver em paz com as outras pessoas, ainda que debochem de mim. Eu sou assim mesmo e tá acabado. Não vou mudar porque as pessoas não gostam de determinada característica minha, a não ser que eu esteja fazendo algo de errado e que de fato possa magoar ou prejudicar outras pessoas. Já ele me parecia que fazia questão de ser diferente simplesmente para parecer diferente. E vive brigando com o mundo por não ser compreendido. Hoje em dia aprendi que é tão mais fácil deixar para lá. Ele gosta de impor o que ele acha certo aos outros. No passado já fiz muito disso. Ainda que eu esteja certa e todos errados, a única coisa a fazer é tentar mostrar o meu ponto de vista e, senão compreendido, respeitar as crenças alheias. Até porque eu também tenho atitudes erradas e quero que elas sejam compreendidas.
Por fim, ele vive sonhando com a imortalidade, mas só dele. Uma vez, ao lhe perguntar se não seria ruim, pois todos (mulher, filhos, amigos) passariam. Ele respondeu que arrumaria outros, como se pessoas queridas fossem descartáveis. Quem diz isso não pode saber o verdadeiro valor do amor.
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